ATA DA QUADRAGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 26.09.1989.

 


Aos vinte e seis dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatu­ra, destinada a assinalar o transcurso do "“Dia da Juventude". Às dezessete horas e vinte minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalida­des presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, na presidência dos trabalhos; Jorn. Adaucto Vasconcellos, representando, neste ato, o Sr. Vice-Prefeito Tarso Genro; Senhores Renato Campão; Mário Pirata; Alexandre; Fiapo Barth; Vander; Giba Assis Brasil; Srª Kátia Suman; Ver. Gert Schinke, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Vieira da Cunha, em nome das Bancadas do PDT e do PDS, discorreu sobre o ambiente em que se formam os jovens, atentando para a  importante conquista representada pelo direito de votar para Presidente da República e ressaltando que sem participação não podem ser conseguidas as necessárias mudanças no País. Defendeu o programa partidário do PDT, falando sobre o significado da militância dentro dos partidos políticos. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, teceu comentários sobre as frustrações sofridas por sua geração, questionando que Brasil será recebido pela próxima geração. Destacou predominar a impunidade no País, com uma inversão dos reais valores da sociedade. Declarou sua esperança na juventude, ressaltando a importância de uma análise profunda quanto às eleições para a Presidência da República. E o Ver. Gert Schinke, em nome das Bancadas do PT, PCB, PMDB, PTB e PL, discorreu sobre o funcionamento das instituições políticas, analisando o hiato existente entre a população e estes organismos. Comentou pesquisa publicada na imprensa, na qual setenta por cento dos jovens entrevistados declararam não confiar nos órgãos políticos do País. Falando da participação da juventude nas grandes revoluções mundiais, atentou para a importância do senso crítico frente aos ideais que nos são apresentados. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou os presentes a participarem de debate, a ser realizado a seguir, referente ao Dia da Juventude, e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Lauro Hagemann e secretariados pelo Ver. Gert Schinke, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gert Schinke, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Damos início aos trabalhos da presente Sessão Solene destinada a assinalar o transcurso do “Dia da Juventude”, por Requerimento do Ver. Gert Schinke.

Convidamos, para fazer parte da Mesa, o Jornalista Adaucto Vasconcellos, representando, neste ato, o Sr. Vice-Prefeito Tarso Genro; o Renato Campão; o Giba Assis Brasil; o Mário Pirata; a Kátia Suman; o Alexandre; o Fiapo Barth; o Vander. Todos esses jovens pertencem ao ramo do teatro, do cinema, da poesia, do rádio, da música, do espaço alternativo e conferem a esta solenidade o caráter que ela deve ter: de representativo da juventude porto-alegrense.

Falarão, em nome da Casa, os Vereadores Vieira da Cunha, pelas Bancadas do PDT e do PDS; o Ver. Omar Ferri, pela Bancada do PSB; e o autor da proposta, Ver. Gert Schinke, pelas Bancadas do PT, do PCB, do PMDB, do PTB e do PL.

Com a palavra o Ver. Vieira da Cunha, pelas Bancadas do PDST e PDS.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Ver. Lauro Hagemann, no exercício da Presidência desta Sessão; demais componentes da Mesa; companheiros que nos honram com a sua presença nesta Sessão Solene.

Eu quero, em primeiro lugar, na condição de Líder da Bancada do PDT aqui na Câmara de Vereadores, parabenizar meu colega Gert Schinke pela proposição desta Sessão Solene e do debate que nós teremos a seguir. E eu não poderia deixar de participar da abertura desta Sessão, até porque fui um dos candidatos mais jovens a Vereador de Porto Alegre e sou, atualmente, um dos mais jovens Vereadores aqui na Câmara Municipal, agora com 29 anos. Eu não poderia deixar de falar em juventude sem fazer uma análise, mesmo que breve, do ambiente em que nós nos formamos, principalmente a minha geração, que é a geração dos anos 60 e, mesmo, a geração dos anos 50, dos anos 40, que se formou debaixo de um regime militar, debaixo de um regime de repressão, de opressão, debaixo de uma ditadura militar em que era proibido que pensássemos, era proibido que nos expressássemos, era até proibido que nos reuníssemos naquela época de regime militar. Lembro-me, inclusive, que as nossas manifestações estudantis, principalmente no final da década de 60 e mesmo durante a década de 70, eram sempre duramente reprimidas pelos militares, pela Brigada Militar. Felizmente a nossa luta, a luta dessas gerações acabou por conquistar um novo tempo, um tempo que ainda não é o que queremos, mas é um tempo em que se permite realizar debates como este e reuniões públicas em que todos podemos ao menos expressar livremente o que pensamos e as idéias que defendemos. Veio a anistia, em 1979, e brasileiros, como Brizola e tantos outros que eram proibidos de viver na sua própria pátria, retornaram. Tivemos uma Assembléia Nacional Constituinte em que não tivemos, também, os avanços que gostaríamos, mas houve progressos inegáveis, principalmente na área dos direitos sociais e dos direitos trabalhistas. O que considero ter sido a maior conquista desses últimos anos de luta da sociedade organizada, o mais legítimo direito de qualquer cidadão, de qualquer população, porque até agora nós todos, dos 16 aos 47 anos – vejam que são três gerações, tanto é que existem muitos pais e mães que vão junto com seus filhos votar pela primeira vez em 15 de novembro – refiro-me ao que é, no meu ponto de vista, a mais importante conquista, que é a de nós, brasileiros, a partir dos 16 anos até aos 18, facultativamente, e dos 18 anos em diante, obrigatoriamente, votar para Presidente da República. A importância da nossa participação política, depois de quase 3 décadas em que éramos proibidos de participar, é inegável, principalmente dado o momento que estamos vivendo no nosso País. Eu, particularmente participo politicamente desde os 15 anos, quando fui Presidente do Grêmio Estudantil da minha escola; depois na Faculdade, fui também Presidente do Centro Acadêmico André da Rocha, na Faculdade de Direito. Enfim, sempre senti a necessidade de participar politicamente e até que senti que o movimento estudantil tinha as suas limitações e que se a gente quer mudar, mesmo, a sociedade em que a gente está vivendo, a gente tem que participar mais organicamente, mais organizadamente e o instrumento dessa participação são os partidos políticos. É através da nossa militância dentro dos partidos políticos que vamos conseguir levar as nossas propostas e tentar mudar aquilo que achamos que não esteja de acordo com as nossas idéias na sociedade em que a gente vive. Eu, particularmente, não tive dúvidas em escolher o meu caminho. Escolhi o PDT principalmente por isso, porque está expresso no programa do nosso partido, e mais do que está expresso  no programa do nosso Partido, é um compromisso, sempre que o PDT é governo, seja numa prefeitura, seja num governo de estado, seja na Presidência da República, se nós chegarmos até lá, que é o compromisso prioritário com as crianças e os jovens do nosso País, e por nós termos compromisso prioritário com as crianças e os jovens do nosso País é que, sempre que o  PDT é governo, ele coloca a educação como a prioridade das prioridades. É por isso que quando o Brizola foi Governado,r aqui no Rio Grande do Sul, ele construiu 6.300 escolas pelo Rio Grande afora e, quando foi Governador lá no Rio de Janeiro, ele construiu um novo tipo de escolas que são os CIEP (Centro Integrado de Educação Pública) em que a criança entra de manhã e tem não só  educação, mas tem assistência médica, tem assistência odontológica e tem assistência alimentar.

Enfim, companheiros, acho que o importante é participar, porque sem participação, e cada um tem que escolher o seu partido para militar de acordo com a sua consciência, de acordo com as suas idéias, sem participação não pode haver mudança e mudança real, efetiva, é tudo o que nós, jovens, queremos. Nós queremos um tipo de sociedade com justiça social e com um desenvolvimento que respeite o meio ambiente, que respeite o ambiente natural. Tenho certeza que vamos conquistar essa nova sociedade, outras gerações podem ter falhado, mas a nossa geração não fracassará. Portanto, por um novo mundo, por uma sociedade melhor, viva a juventude! (Palmas.) Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB.

 

O SR. OMAR FERRI: Exmo Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal no exercício da Presidência dos trabalhos; Jornalista Adaucto Vasconcellos, representando o Sr. Vice-Prefeito Tarso Genro; Sr. Renato Campão; Sr. Mário Pirata – é o da “perna-de-pau”; Srª Kátia Suman; Sr. Alexandre; Sr. Fiapo Barth; Sr. Vander; Sr. Giba Assis Brasil. Eu estou brincando, desculpem a brincadeira, mas hoje é o Dia do Estudante e nós temos que brincar um pouquinho; prezados Vereadores; meus senhores e minhas senhoras.

Pois eu também fui estudante! Há muito tempo! Quase há meio século! Eu não sei se hoje os hinos do Estudante e da Juventude são os hinos que cantávamos no meu tempo. Talvez Adaucto, que tem  três anos mais do que eu se lembre, o Ver. Lauro Hagemann também, mas dentre vocês talvez alguém se lembre ou até cante o hino que dizia: “Estudante do Brasil a tua missão é a maior missão. Batalhar pela verdade e impor a tua geração”.

Eu lembro dos comícios daquela época em que os políticos apontavam para nós e diziam: “nos ombros de vocês está a responsabilidade da construção do Brasil de amanhã”. Pois vocês sabem, meus estudantes, que a minha geração passou e este Brasil do futuro, e este Brasil do amanhã não surgiu. Eu já tenho filhas e filhos da idade de vocês, e estou vendo com muita tristeza a situação da nossa Pátria em todos os seus setores. Eu me pergunto, qual a Pátria que nós edificamos para vocês? Será que a nossa missão foi lutar pela verdade, impor a nossa geração, construir um Brasil melhor e maior e dá-lo de presente a vocês? Que Brasil existe hoje, senão o Brasil do sofrimento, da miséria, da dor? Um Brasil impotente de se auto-gerir e de se auto-administrar. Quais as esperanças que vocês, como estudantes, têm em relação ao futuro? Eu até me atreveria antecipar este debate que o Ver. Gert Schinke vai presidir depois. Indagar a vocês qual a esperança que vocês têm do Brasil de amanhã. No Brasil que será representado por vocês, quando vocês formados, assumirem os seus postos de trabalho, ou seus postos políticos. A nossa geração, eu digo para vocês, falhou. Lamentavelmente, falhou. Falhou em todos os sentidos, nós temos muita vergonha em entregar-lhes um Brasil falido. Um Brasil sem esperança, sem fé, sem futuro. Um Brasil sem o amanhã. Quem sabe vocês, como uma espécie de chama, de rebeldia e até de revolução, se unam para melhorar esta situação deprimente pela qual o Brasil atravessa nos dias de hoje. Eu até diria e não poderíamos fazer um Brasil de amanhã sem reescrever a nossa história. Não só a história do Brasil, possivelmente a história do mundo, também! Quando nós estamos habituados ler a história dos heróis do mundo, vou dar um exemplo apenas, a história do Júlio César. Vocês sabiam que Júlio César, para conseguir ser imperador romano e se manter como imperador assassinou um milhão e quinhentos a dois milhões de pessoas? Esta é a triste história, que já vem desde os tempos do Império Romano. E que Brasil é este, se, somente na década de 1975 a 1985 morreram, no nordeste, 10 milhões de pessoas? E que Brasil é este que tem cerca de dois milhões de crianças prostituídas entre a idade de 10 e 12 anos? Denúncia feita pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns. Que País é este em que, dentre as mil crianças que anualmente nascem, 60 ou 70 morrem sem completar o primeiro ano de vida? Quanto sofrimento todos nós temos, juntamente com nossas famílias, porque não temos acesso à escola, ao médico, ao hospital, ao dentista, à previdência social? Que País é este? Eu sou obrigado a dar exemplos. Que País é este que, há questão de 10 anos atrás, não deu asilo a um biofísico uruguaio, chamado Cláudio Bennech? E, ontem, abrindo o  Jornal do Brasil, duas páginas do Jornal do Brasil registravam que viveu entre nós o maior traficante de cocaína do mundo e que chegou aqui fugido dos Estados Unidos  e         eu, aqui, através do escritório jurídico de um advogado chamado Ackel, filho do Ministro da Justiça Abi Ackel, em dez dias e com um gasto  de 10 mil dólares, conseguiu naturalização brasileira. Quando o próprio Presidente da República viu que tinha concedido autorização a um traficante, anulou a naturalização. Mas, mesmo assim, ele continuou vivendo no Brasil, e foi condenado, em Pernambuco, a 7 anos de reclusão, e os Estados Unidos pediram a extradição deste traficante com o intuito de não cumprir a pena. Requereu ao Presidente da República o cancelamento de sua naturalização. E conseguiu. Solicitada extradição pelos Estados Unidos, ingressou com Habeas-Corpus no STF e ganhou liminar do Presidente do Supremo Tribunal. E o mesmo Ministro que dava liminar para um vigarista, delinqüente, ladrão, um traficante não ser extraditado, foi o mesmo Ministro que negou Habeas-Corpus para o Padre Vitor Maracapilo que se negou a rezar a missa no dia 7 de setembro, no período da ditadura. E foi o mesmo Ministro, chamado Cordeiro Guerra, Presidente do STF, que anulou uma ação popular ajuizada contra uma empresa chamada Lufthansa, que sonegou aos cofres da Nação milhões e milhões de dólares. Que País é este onde predomina, em caráter absoluto, a impunidade? Que País é este que transforma delinqüentes em heróis? Qual a justificativa de ordem moral, ética, política, sociológica que, ontem, o Morro da Cruz enterrou um dos maiores heróis de Porto Alegre, um traficante e delinqüente? Pobre Pátria! Por isso que investi para este lado, talvez, fosse eu um descrente do futuro deste País, mas como poderia descrer do País mais rico que existe na face da terra? Seria lícito que a nossa, Adaucto, tu com 59 anos, e eu com 56 anos, pudéssemos descrer no próprio futuro da Pátria? Não podemos. Não podemos trair os nossos ideais. Não podemos trair a nossa luta. Não podemos trair a nossa fé. E qual é a nossa fé? A nossa fé são vocês. Vocês que deverão lutar para higienizar este País. Para extirpar a corrupção deste País. Para votar com consciência e votar bem. Para praticar a política, o civismo e a democracia. Para lutar contra as ditaduras que ocorreram no Cone Sul e que foram as causas de nossa infelicidade. Se não fossem vocês, o Brasil certamente estaria perdido. Eu até me atreveria a invocar o poeta e dizer a vocês:”não acreditem em ninguém mais, com mais de 3”. Embora eu tenha 58 anos. E não acreditem muito nos políticos. Vocês devem assistir a estes programas de televisão com muito espírito crítico. Hoje todos eles estão botando corrupto na cadeia e terminando com a delinqüência. Todos eles estão dando casa para o povo. Todos eles estão resolvendo todos os problemas sociais. Todos eles estão dando um céu. Hoje, é o inferno; amanhã será o céu. Mas eu pergunto a vocês: o homem pode como por milagre, como por encanto, como por geração espontânea ser ele mesmo sem ter o seu passado e sem ser a soma daquilo que ele foi, desde que nasceu? Como podem aqueles que se comprometeram até a medula dos seus ossos, com os vícios da corrupção, do atraso, do obscurantismo cultural, durante mais de 20 anos e, agora, são candidatos dizendo que vão salvar este País. Não! Um homem é a sua soma. A soma de suas lutas, de seus dias passados. De seus meses, de seus anos. De seus estudos, de seus ideais. Nós enfrentamos a ditadura. Nós enfrentamos o regime de excrescência democrática e jurídica. Nós lutamos, eles não. Então os Senhores terão poucos candidatos para escolher, mas terão candidatos para escolher. Escolham e lutem. E lutem porque nós devemos realizar os nossos ideais em elevadas expressões de espírito. Sou grato.

                            

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o autor desta proposta Ver. Gert Schinke que fala pelas Bancadas do PT, PCB, PMDB, PTB e PL.

 

O SR. GERT SCHINKE: Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara na Presidência dos trabalhos; Jornalista Adaucto Vasconcellos, que está representando aqui o Vice-Prefeito Tarso Genro e o Prefeito Municipal Olívio Dutra; companheiros da Mesa; companheiros e companheiras aqui presentes, neste ato que assinala a passagem do Dia Mundial da Juventude. Vocês estão aqui presentes, num local onde são estabelecidas a maior parte das políticas que regem a nossa vida, em nível municipal, embora são determinantes na nossa vida aquelas políticas que são deliberadas em Brasília, e logo aqui a algumas quadras adiante, no Palácio Farroupilha.

Vocês estão sentados em cadeiras que há pouco eram ocupadas por Vereadores, dentro de um recinto que é restrito aos Vereadores, porque aqui se estabelecem, quando do transcurso das Sessões, que os Vereadores devem estar aqui dentro, e tem que ter esta comodidade, e o povo que vem assistir às Sessões da Câmara tem que estar lá atrás, naquelas cadeiras. É assim que funciona.

E sabem como é que funciona, quando aqui funcionam as Sessões? É assim: S. Exª, nobre Presidente dos trabalhos fulano de tal. S. Exª Vereador tal, S. Exª nobre Vereador tal. Vocês vão dizer: mas quanta babaquice, como podem esses caras agüentarem uma coisa dessas, quanto formalismo, quanto desperdício de saliva, para sair o quê? Mas é assim que funcionam as Instituições que existem nesse País, e em outros Países do mundo. É usando essas terminologias, é usando esses artifícios formais e que fazem com que grande parte da população, especialmente nós jovens, começamos a ter aversão à política, aversão às Instituições que aí existem, por quê? Porque elas são “caretas”, são um atraso. Na verdade muitas delas estão superadas pela história. Vocês querem ver uma coisa, ontem eu abri o jornal e aqui eu li na “Folha de São Paulo”, um jornal nacional, que fez uma pesquisa que é extremamente elucidativa. Ele fez uma pesquisa entre a juventude, analisando a juventude sob a ótica de várias faixas etárias e concluiu que os jovens com menos idade, entre aqueles que já estão aptos, inclusive, a votar, acreditam muito menos, desconfiam muito mais das pessoas com mais idade, das Instituições. Então, lhes fizeram uma pergunta que dizia o seguinte: não têm confiança nos Tribunais de Justiça, não têm confiança na Presidência e Ministérios, não têm confiança no Congresso Nacional? Pasmem! A média das porcentagens entre estes jovens de 16 a 18 anos foi de afirmação disso que eu falei agora. Portanto, não têm confiança 70%. Não acreditam, o que pode fazer o Executivo, um Presidente da República, os Tribunais de Justiça, o Congresso Nacional, os Parlamentares, os Vereadores. É claro! Por que chegamos a uma situação dessas? Isso passa por um processo histórico que já foi assinalado aqui.

Vocês, nós, eu também sou  da geração da ditadura militar brasileira. Também nunca votei num Presidente da República. Mas votar é apenas uma parte do processo da nossa cidadania. Além de votar, nós temos de participar nas discussões e é isso, também, que nós queremos fazer com que aconteça aqui dentro desta Casa, que é para ser uma Casa do Povo. Vocês sabiam que muita gente em Porto Alegre não sabe onde é  que fica a Câmara de Vereadores? Talvez alguns de vocês até estejam aqui pela primeira vez visitando esta Casa, e isso é muito compreensível. Por quê? Há um hiato, há um abismo entra a participação política e as instituições no nosso País. E é por isso que fica muito mais fácil para que haja corrupção, malversação de recurso, porque as decisões se dão isoladas, a população não sabe o que está acontecendo. E a nossa juventude, muito menos. Além disso, a nossa juventude é vítima de uma coisa que é realmente aviltante e que acontece através dos grandes meios de comunicação, através da propaganda que incide, essencialmente, em cima da juventude e que lhe tenta implantar valores que reproduzem esses valores da nossa sociedade capitalista. O consumismo, o apego a falsos valores de qualidade de vida que vende, inclusive, a vitalidade da juventude através de uma carteira de cigarro. Isso aparece nas propagandas de televisão que mostram a beleza, a vitalidade dos atletas que fumam “Hollywood”. Mas isso muita gente acredita, porque de tantas vezes botar na cabeça as pessoas acreditam que isso é verdade, assim como acreditam que o Collor é o salvador da pátria porque a Rede Globo inventou de fazer isso. Isso é verdade e não é só isso. Quando os militares fazem propaganda na televisão, dizendo que vocês, jovens, têm que se alistar no Exército, e que bom se as mulheres também fossem, o que eles querem? Eles estão vendendo a idéia para vocês de que o mundo não pode viver sem armas, que o homem foi feito para brigar! Que tem que ter um fuzil, que tem que defender a Pátria! Mas que Pátria? Esta é a Pátria que eu quero defender, que está vendida para o imperialismo, que está vendida para as companhias norte-americanas? É por esta que vou dar a minha vida, com uma metralhadora nas costas? Não! Eu, não! Não é essa Pátria que vou defender, e conclamo vocês a não defender essa Pátria que está sendo vendida pelos discursos enganadores desses políticos que estão fazendo aquilo que sempre fizeram: fazem uma coisa na prática, e no discurso vendem uma outra imagem, a de salvadores da Pátria. Oferecem o céu para vocês, como aqui disse o Ver. Omar Ferri, oferecem o céu para o povo. Vocês, que tem uma energia, e ainda muito mais do que eu, que estou com 33 anos e me considero superjovem, que têm a vitalidade dentro de vocês, são usados espertamente por muitas pessoas. Vocês têm sonhos, têm esperanças e esses sonhos e essas esperanças, assim como podem servir para transformar essa sociedade, também podem servir para atender aos interesses dos que querem que essas coisas continuem como estão. Assim como os jovens foram os maiores responsáveis pelas grandes revoluções que a humanidade enfrentou, como a da União Soviética, como na China, como no Vietnã, que expulsou o imperialismo norte-americano do Sudeste Asiático, como na Nicarágua, como em El Salvador, hoje, como nas resistências da juventude em todos os países do mundo e, agora, recentemente, na China, simbolizada por aquele estudante militante que atacou aquela coluna de tanques, essa mesma juventude, também, foi usada para alimentar o fascismo, o nazismo, que alimentou as fileiras do exército nazista e que foi responsável por 50 milhões de mortes na Segunda Guerra Mundial.

Portanto, companheiros e companheiras, não se iludam, é importante a gente escutar as pessoas com mais experiência de vida, aqueles que já têm mais idade, mas é importante  a gente ter o pensamento crítico sobre o que eles falam e porque estariam falando essas coisas. Quando dirigimos com tanta veemência essas palavras para vocês, queremos dizer que a juventude não pode desaparecer dentro de nós, porque no momento em que desaparece uma esperança, no momento em que desaparece o sonho, vamos estar nos auto-destruindo. Queremos alimentar o sonho por uma sociedade igualitária, por uma sociedade mais justa que é a sociedade socialista. Esse é o sonho  que queremos alimentar e é por isso que tentamos propiciar esta oportunidade para debater os nossos assuntos, uma vez, aqui dentro desta Câmara de Vereadores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaria de avisar aos companheiros estudantes presentes, que logo após o encerramento formal desta Sessão Solene haverá um debate comandado pelo Ver. Gert Schinke, autor da proposta de que se realizasse esta Sessão Solene. Eu não poderia encerrar esta Sessão sem antes dizer que me sinto muito à vontade entre vocês, embora meus cabelos brancos, porque grande parte da juventude das pessoas não está na cabeça branca, está na mente e eu me considero ainda um jovem, com as mesma angústias e com as mesmas esperanças da maioria de vocês. Quero dizer que não se deixem abater pelas dificuldades que hoje estamos enfrentando. A situação do País não é boa, mas só  a união de todos e, principalmente, da juventude, será capaz de tirar o País desta entalada. Mantenham a cuca fresca, porque o resto virá, tenho certeza disso. Um abraço muito fraternal.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h.)

 

* * * * *